(Carlos Abreu Amorim - JN)
No final da reunião do G20, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, apelou aos governos europeus para aplicarem os seus planos de austeridade "rigorosa e convincentemente". Mas, de imediato, sublinhou que a sua mensagem era "muito forte para Portugal, assim como para os outros". Ficamos esclarecidos quanto à real identidade dos destinatários da advertência - tanto assim, que a defesa das cores lusas foi tomada a peito pela vice-presidente do Governo espanhol, Elena Salgado, que garantiu ao Mundo que Portugal aprovou medidas "muito austeras" para 2011, o que deveria ser suficiente para ressuscitar a confiança internacional. Embora, de passagem, a governante socialista "ibérica" tenha aproveitado para reafirmar que a Espanha foi "muito mais rápida" do que Portugal a definir e a aprovar um plano de reacção contra a crise - "seguramente" disse Salgado!
Este pequeno episódio do fim-de-semana elucida bastante a triste realidade em que estamos:
(i) Nos fóruns internacionais, quando se cuida da crise europeia, automaticamente pensa-se no problema chamado Portugal;
(ii) Os governantes indígenas já nem sequer desfrutam de uma réstia de prestígio e de credibilidade que os habilite a fazerem a sua própria defesa - ao invés, são forçados a engendrar uma desconsolada prática concertada com os "nuestros hermanos";
(iii) Estes, como a história ensina, estarão sempre dispostos a amparar-nos quando tal se revelar propício aos seus próprios interesses (para já, Portugal é a primeira linha de defesa económica e financeira da Espanha), não se coibindo, contudo, de evidenciar uma insuportável preeminência que julgam naturalmente sua.