Pelo
seu pé, sem que a polícia o tenha ido buscar, Carlos Cruz apresentou-se ontem
na prisão. Cumpriu o que prometera.
Carlos Cruz é culpado de um crime hediondo, a pedofilia.
Ainda que
ele se diga inocente, se sinta inocente e seja mesmo inocente, o
mecanismo que a nossa sociedade tem para definir quem é e não é culpado, com
todas as possibilidades de defesa e de recurso, não concluiu por essa inocência
e condenou-o.
A convicção que cada um de nós tem pouco conta.
Uma sociedade
seria insuportável se as condenações e absolvições se fizessem sem regras, ao
sabor de cada momento.
Por mim, várias vezes duvidei deste processo, mas
saúdo inteiramente o facto de Carlos Cruz se ter apresentado na prisão para
cumprir a pena a que foi inapelavelmente condenado.
Este é um serviço de Carlos Cruz ao país e à Justiça.
Porque nos recorda
a vergonha, o desmando e - porque não utilizar esta palavra? - a lata de
Isaltino Morais, de Macário Correia, de Vale e Azevedo e de tantos outros
que tudo fazem para que a Justiça não se cumpra.
Em particular, os dois
primeiros por serem políticos e com acrescida desonra para o primeiro, que
começou a vida como magistrado do Ministério Público.
Nenhum deles se diz mais inocente do que Carlos Cruz se disse em todo o
processo.
Mas ao entregar-se o ex-apresentador de TV submete-se à lei, como
todos nos devemos submeter, mesmo quando a sentimos injusta.
Dura lex sed
lex (a lei é dura, mas é a lei) diziam os romanos.
E esse princípio não
pode ser colocado em causa numa sociedade democrática.
Uma coisa é lutar com todas as armas legais ao nosso alcance. Outra é, através
de artimanhas e expedientes, colocar-se acima da lei.
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