sábado, 6 de abril de 2013

Há quem não perceba que isto está a mudar


(Ferreira Fernandes - DN)


  

O ministro do Orçamento francês, Jérôme Cahuzac saiu, há semanas, do Governo de François Hollande.
Um site de jornalismo de investigação, o Mediapart, revelara que ele possuiu durante anos, até 2010, uma conta no banco suíço UBS, que nunca foi declarado ao fisco.
Para um ministro do Orçamento, mesmo para pecado passado, era um forte abuso, sobretudo em tempos em que os cidadãos não são poupados (também em França) à austeridade.
Cahuzac demitiu-se, mas "isso não mudava nada à sua inocência nem ao carácter caluniador das acusações", disse ele no comunicado em que abandonava o cargo.
O Governo suspirou de alívio (as sondagens não têm andado boas para Hollande) e agradeceu o sacrifício de Jérôme Cahuzac.
Já têm acontecido assim a políticos, momentos maus, atitude nobre e, no futuro, o reconhecimento pelo seu gesto (mesmo que nada viesse depois a desmentir ou confirmar os factos iniciais da sua queda).
Acontece, porém, que talvez estejamos em novos tempos, a ira dos debaixo já não deixa que as coisas se arrastem até ao esquecimento.
A investigação (jornais e juízes) continuaram: e, sim, era verdade a história da conta suíça.
Ontem, Cahuzac confessou-se "arrasado de vergonha."
Mas, neste ponto, já era uma confissão indecente.
Há um lição a tirar: por estes tempos, os homens públicos rezem para não serem apanhados em falcatruas e, sendo, confessem logo. Os tempos não estão para vamos lá ver se isto passa. Pelo menos algures.

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