domingo, 7 de agosto de 2011

O Roberto e o BPN

Manuel Serrão (JN)


Tenho de começar por pedir alguma calma ao leitor, porque não quero que seja induzido em erro numa leitura apressada deste título. Já sei que estamos em plena "silly season", mas não se assuste, não, não foi o BPN que comprou o Roberto.

Por um lado, nem todos os maus negócios são exclusivo do banco que já patrocinou o Scolari, e por outro, tanto quanto se sabe, o BPN já não tem defesa possível.

De que lhe serviria o Roberto?
Não foi a troika que impôs ao Benfica a venda do seu guarda- -redes Roberto, mas é pena que quem foi capaz de o vender nas condições tornadas públicas não possa ser convocado para vender o BPN.

O guarda-redes espanhol que o Benfica foi comprar ao Saragoça (diz-se) por 8,5 milhões de euros acaba de ser devolvido ao seu clube de origem por (diz-se) 8,6 milhões.

Depois de ter sido a maior contratação de sempre de um guarda-redes por um clube português, as suas exibições, a sua insegurança e os seus "frangos" comprometedores pareciam garantir-lhe o único título digno de nota ao serviço do SLB: o maior flop de sempre na história do futebol português. Tendo em conta o binómio falta de qualidade, preço.

Eis senão quando rebenta a notícia futebolística do defeso. Luís Filipe Vieira tinha sido capaz de vender o Roberto... ainda por cima com lucro!

Proponho desde já que ao novo acordo ortográfico se possa acrescentar um acordo sobre a queda em desuso da célebre expressão "desde que vi um porco a andar de bicicleta, já acredito em tudo".
Que seria substituída pela nova formulação, "desde que vi o Luís Filipe Vieira a vender o Roberto por 8,6 milhões de euros, já acredito em tudo".

Mudando ligeiramente de assunto, até para fazer jus ao título desta crónica, também confesso que se visse alguém ser capaz de vender o BPN sem extorquir mais impostos aos contribuintes portugueses passava a ser capaz de acreditar em tudo.

Até mesmo que o "frangueiro-mor" do último campeonato foi capaz de dar lucro ao clube que o tinha comprado por mais de 8 milhões. Esta autêntica novela em que se tornou o caso BPN tem feito correr rios de tinta, mas o que é muitíssimo mais grave é que também tem feito escorrer rios de dinheiro dos bolsos dos portugueses. E como se podia ler no JN de ontem, não se sabe quando se estancará essa corrente.

Como diz com o saber de experiência feito um amigo que muito prezo, quando devemos mil ao banco, temos um problema. Já quando conseguimos ficar a dever um milhão, quem tem um problema é o banco.

Ora aqui temos mais uma sentença que precisa de ser actualizada. Quando passa a ser um banco a dever e em vez de mil ou um milhão, são mil milhões, o problema deixa de ser do banco e volta a ser nosso outra vez.

Infelizmente, parece ser este definitivamente o caso do BPN. Mesmo que o Estado o venha a conseguir vender por uma centena de milhões, ainda ficam para trás muitos e muitos milhões (acho que ninguém nunca saberá ao certo quantos) que entraram directamente para o passivo dos portugueses e de lá jamais sairão.

Sou mesmo capaz de repetir, sem medo de virem um dia a fazer graçolas com a palavra, jamais sairão.

Aparentemente, o BPN foi nacionalizado porque estava falido. Não seria o primeiro e não teria de ser certamente o último a fazê-lo.
Como acontece na vida dos negócios, todos os dias abrem e fecham empresas e um banco não deveria ser muito diferente.
Não me interessam para aqui as circunstâncias rocambolescas do caso, que andam a ser apuradas noutra sede.
O que me interessa e lamento que continue por explicar é por que é que quando uma empresa qualquer declara insolvência, os seus donos e os seus credores têm de se amanhar com o que sobra e no caso do BPN o Estado achou que tinha de lhe pôr a mão por baixo.

Que se saiba, no BPN não havia meninos. E se existiam borrachos, deviam ser só para consumo privado...

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