por Nuno Faria (http://aoleme.wordpress.com)
Só hoje pude ouvir na
íntegra a última entrevista do
nosso PM Pedro Passos Coelho. Independentemente do que disse há que
reconhecer que está em grande forma física e mental aparecendo com um ar
saudável, enérgico e aguerrido. Defensor convicto das ideias do governo e do
rumo que quer dar ao país. Aguentou-se bem durante uma hora e saiu quase
incólume da entrevista.
Alguns comentários leves aqueles que foram para mim dos principais argumentos
apresentados.
Este orçamento é garantia de que continuaremos a executar com sucesso o nosso programa de ajustamento
Esta frase demonstra
claramente qual o seu conceito de sucesso para o estado de uma nação. A
aceitação dos mercados acima do bem-estar social. Pena que muitos cidadãos
portugueses não possam ter assistido a este discurso porque de
momento não conseguem suportar a despesa da luz, água e/ou gás (galeria de
fotografias obrigatória!). Ficariam deveras consolados em saber que o seu
sacrifício nos conduziu a todos a este patamar de sucesso.
Endividámos-nos ao ritmo de 10% da riqueza gerada ao ano e sofremos um duro embate com a realidade em 2011. Parte da riqueza que tinhamos era uma riqueza fictícia.
Se olhar em redor do seu cículo político e empresarial irá reparar que a
maioria das riquezas continuam reais. O que se tornou fictício foi o padrão de
vida de uma classe média e média alta. Que estão bem longe do patamar da
riqueza. Quem decidiu e geriu esses 10% acima das nossas posses aparentemente
continua bem na vida.
Em 2012 tivemos uma surpresa orçamental. (…) Não é um erro de previsão. Quando fazemos previsões partimos de uma observação do passado e de uma realidade presente (…) Eu tenho noção da realidade (…) A cada trimestre corrigem-se as previsões para refletir as mudanças.
E de quantos trimestres é que precisas até perceber que foi a aplicação das
acções para chegar às previsões falhadas do governo que provocaram as mudanças
no trimestre anterior?
O programa de ajustamento que temos é com a Troika! Não é com a OCDE! Se o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu dizem que estamos no bom caminho temos de acreditar no que dizem. Eles têm muito interesse em que lhes paguemos a dívida.
Isto foi em resposta às análise de instituições internacionais não
relacionadas com a Troika que estimam que as medidas em curso vão agravar a
crise em Portugal. Acredito que a Troika tenha todo o interesse em que paguemos
a dívida, sem esquecer os juros. Mas até agora não parecem muito preocupados com
o nível de prioridade do pagamento da dívida versus impacto social na vida do
país. Assim de repente parece-me que essa tarefa deveria caber ao nosso governo.
Há dívida e há pessoas. Quem zela por quem nesta parceria?
Em 2013 invertemos para 70% na receita e 30% na despesa o peso do controlo orçamental. Em 2014 queremos atingir o patamar da resolução através de 2 terços em cortes na despesa. (jornalista pergunta se isso significa que os aumentos de impostos e cortes nas pensões são só para 2013) Não, não foi isso que eu disse!”
Parabens Pedro. Conseguiste não dar uma falsa esperança que só poderia ser
corroborada daqui a um ano. No passado disseste que em 2012 já estaríamos de
saída da crise mas agora sabemos que até 2015 estaremos de castigo.
Estamos a atingir o ponto de equilibrio entre as importações e exportações.
O que liga bem com a fantástica capacidade de previsão do governo. Este foi
um facto que surgiu organicamente sem ninguém perceber como, a par do enorme
aumento do desemprego. Este fulgor nas exportações foi prontamente cavalgado
como uma grande façanha do governo e tornada bandeira da propaganda interna.
Claro que reforçaram o apoio às exportações sabendo reagir com inteligência.
Reagir, não prever, não planear nem estimular segundo programa do governo.
Simplesmente deu sorte. Será esse o segredo? Não ser alvo de medidas correctivas
do governo?
70% das despesas do estado são com salários e prestações sociais.
O que quer dizer que se querem que até 2013 2 terços da consolidação
orçamental seja fruto do estancar de gastos pelo menos 30% vão ter de incidir
sobre estes itens que afetam directamente a vida de milhares…
Nós temos uma constituição que trata o esforço do lado da Educação de uma forma diferente do lado da Saúde. Isso dá-nos margem de liberdade na área de educação para um sistema de financiamento mais repartido.
Para além da nebulosa
que lança sobre o que pode acontecer na área da Educação esta é uma afirmação
que demonstra o carácter do nosso Primeiro Ministro. Um Primeiro Ministro que
identifica debilidades da Constituição Portuguesa numa área fundamental como é a
Educação e se prontifica a explorar essas falhas para poder deturpar o conceito
de uma Educação igual para todos, se isso significar corte significativo de
despesas. Esta afirmação na recta final assusta-me pois apresenta uma
mentalidade de chico-esperto explorador do sistema a seu favor ao invés de
alguém que se prontifica a melhorar o sistema quando encontra uma falha. Uma
pessoa com este tipo de mentalidade corre o risco de se rodear de gente
perigosa, gente perita em circundar leis e regulamentos, gente com ligações perigosas a associações obscuras que
colocam os lucros à frente de tudo e todos, gente que se preocupa em aparentar saber sem o saber, gente bajuladora que não se importa de ser testa de ferro para
experimentações em larga escala.
Apercebi-me depois desta
ideia que tenho de parar com estas teorias conspirativas. Foi certamente apenas
uma pequena gaffe. Só para me tranquilizar fui prontamente verificar quais os
principais braços direitos do nosso PM para conseguir ter uma noite tranquila
com a certeza de que homens honestos e capazes conduzem o destino de Portugal.
Certamente gente com extrema capacidade, competência e consciência
social.
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