segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Classe média como a conhecemos poderá desaparecer

A classe média como a conhecemos em Portugal pode desaparecer como consequência da crise económica que o país atravessa, disse hoje à Lusa o sociólogo Elísio Estanque, que lança esta semana um livro sobre este tema.

A classe média «está em risco de um empobrecimento muito rápido» que pode levar a um «descontentamento mais amplo na sociedade portuguesa» e ao «enfraquecimento do sistema socioeconómico e do sistema democrático», explicou o autor do livro «Classe Média: Ascensão e Declínio».

Para o sociólogo, a classe média em Portugal tem «dificuldades acrescidas» em relação a outros países ocidentais, que resultam de processos tardios quer de industrialização quer de adopção de um regime democrático.






Por isso, «a classe média que Portugal conseguiu edificar» foi criada num «processo muito rápido, pouco consistente, que resultou sobretudo da expansão do Estado social e que, na sequência dos anos 80 do século passado, sujeita a um discurso mais ou menos eufórico orientado para o consumo e para um certo individualismo, criou um conjunto de expectativas relativamente às oportunidades do sistema».

No entanto, a crise económica que Portugal enfrenta está a defraudar essas expectativas, considerou Elísio Estanque, explicando que isso levará a uma alteração da sociedade a partir da insatisfação dos jovens.

Muitos jovens, que fazem parte da classe média mas que têm formação superior, vivem uma «condição de precariedade e insatisfação relativamente às instituições e à classe política», sendo esta faixa da sociedade que «alimenta os movimentos de protesto», explicou.

São eles que «incutem um novo discurso, uma nova leitura relativamente ao funcionamento da sociedade e recorrem a outro tipo de meios e de leituras da realidade. Se esses sinais conseguirem ser capitalizados e absorvidos pelos agentes da nossa vida política – partidos políticos, sindicatos, instituições em geral – pode ser que as instituições se renovem a tempo de evitar o pior», considerou Elísio Estanque, ressalvando que «terá de haver uma renovação».

«Estamos num momento de encruzilhada de viragem. Não é só Portugal. Estamos num mundo conturbado, estamos num momento de transição. Para o bem ou para o mal. A História está em aberto», referiu.

E, embora admita que os portugueses não costumam «embarcar em excessos como aconteceu na Grécia», o sociólogo acredita que a ideia de que Portugal é um país de brandos costumes é um mito.
«Em vários momentos da sua história, os portugueses mostraram uma grande irreverência, capacidade de acção e até algum radicalismo», concluiu.

Lusa/SOL

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