segunda-feira, 8 de março de 2010

Balanço do consulado

Por João César das Neves (Dn de hoje)
(excerto – o texto completo está em http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1513677&seccao=Jo%E3o C%E9sar das Neves&tag=Opini%E3o - Em Foco)


O consulado de José Sócrates acabou. Ele parece não saber isto e até pode manter-se no cargo algum tempo; John Major esteve assim anos. Conserva o poder, perdeu a autoridade. […]

Para o avaliar é preciso ver que raramente um líder gozou das suas condições. Com maioria absoluta de um só partido e sem eleições no horizonte, a crise de 2003-2004 tinha preparado o povo para a necessidade de reformas drásticas. Pode parecer estranho hoje, quando até se alimenta a ficção do governante mais atacado, mas José Sócrates teve imagem impecável e carinho jornalístico até ter abusado disso.

[…] Cinco anos passados, Portugal está pior.
Não há dúvida de que os anos Sócrates demoliram gravemente o moral e a estrutura do País. Temos os professores irritados e desanimados, mas também os médicos, enfermeiros, funcionários, militares, polícias, magistrados, bispos, agricultores, e tantos outros. Nenhum grupo profissional mantém auto-estima e equilíbrio, que também se perdeu nos contribuintes, famílias, pobres, desempregados e cidadãos em geral. Isto reflecte-se na vida quotidiana, na operação de empresas e serviços e sobretudo nas expectativas e investimentos.

[…] As famigeradas reformas são hoje tão urgentes como em 2005. Os Governos Sócrates alienaram os governados sem resolver os problemas. A crise internacional serve de desculpa, usada intensamente, mas a verdade é que o problema central não está aí. Não é pelas condições externas que Portugal se sente atolado. E o desânimo prende-o no atoleiro.

Qual a razão? Parece evidente que o primeiro-ministro nunca chegou a compreender a sua função, os verdadeiros problemas do País e a sua solução eficaz.

Quem acha que venceu o défice subindo impostos não percebe a questão.

Quem propõe TGV, aeroporto e auto-estradas, primeiro como estratégia de desenvolvimento, depois como saída para a crise não entende nada de economia.

Quem está disponível para demolir o sistema de ensino pela avaliação de professores não conhece os problemas da educação.

São os próprios discursos brilhantes do PM que revelam a imagem artificial do País e realidade.

O eng. Sócrates é um genial táctico. Não percebe de finanças, direito, saúde, educação, talvez até nem perceba muito de engenharia, mas há uma coisa que percebe: política. Essa é a sua profissão, e é mesmo um dos políticos nacionais com maior sucesso. Não tem sabido governar o País, nem tem muito êxito na escolha dos que o fazem por si, mas sabe uma coisa: manter o Governo no poder e mostrar uma imagem positiva. É para esse objectivo, não para o progresso, que se orienta a função ministerial há cinco anos. Claro que todos os políticos o fazem, mais ou menos, mas não vivíamos um período de tanta embriaguez populista desde os anos revolucionários.
[…]

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