22.02.2015
DOMINGOS DE ANDRADE
As declarações de Silva Peneda, na entrevista que dá hoje ao JN, são um safanão na espiral de silêncio que atravessa o país.
Pela lucidez da visão, pela clareza das palavras, pela preocupação com o rumo que tomámos.
Silva Peneda, um histórico social-democrata preterido pela coligação PSD/CDS para comissário europeu em circunstâncias que nunca foram bem conhecidas, entende que o Governo português esteve mal na posição de sobranceria em que se colocou perante a Grécia.
Esteve mal quando quis ir mais longe do que a própria troika nos últimos três anos e meio, aplicando um programa de austeridade "incompetente".
Esteve mal, em suma, substituindo verdadeiras reformas pela sobrecarga fiscal sobre os portugueses, ou pelas mudanças laborais que desequilibraram a relação de forças entre quem detém o capital e quem trabalha.
E o olhar crítico que tem sobre Portugal não difere muito do que tem sobre o caminho da Europa, para o qual só encontra solução e futuro na federalização e no esbatimento da hegemonia dos Estados fortes sobre os fracos.
A síntese do seu pensamento fá-la ele mesmo quando cita uma declaração de 1976 de Francisco de Sá Carneiro, como se quisesse dizer que não é preciso andar sempre em busca de soluções ou de ideias novas, porque elas sempre estiveram debaixo do nosso nariz:
"É necessária uma política de austeridade. Mas impõe-se que essa política de austeridade não recaia, especialmente, sobre as classes trabalhadoras. É preciso que ela se integre numa política de relançamento da nossa economia. Sem isto não há austeridade que valha a pena".
Silva Peneda, ainda presidente do Conselho Económico e Social, assume em maio um mandato de dois anos como conselheiro especial do presidente da Comissão Europeia. Vai embora, portanto, porque temos dificuldade em manter os melhores.
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