30/01/2015 - 07:28
Dezenas de analfabetos que gostam de se dar
ares fizeram um escândalo com o aparente excesso de erros de ortografia,
pontuação e sintaxe dos 2490 professores que se apresentaram à “Prova de
Avaliação de Conhecimentos e Capacidades” (PACC).
Deus
lhes dê juízo.
Para começar, não há em Portugal uma
ortografia estabelecida pelo uso ou pela autoridade. Antes do acordo com o
Brasil – um inqualificável gesto de servilismo e de ganância –, já era tudo uma
confusão.
Hoje, mesmo nos jornais, muita gente se sente
obrigada a declarar que espécie de ortografia escolheu. Pior ainda, as regras
de pontuação e de sintaxe variam de tal maneira que se tornaram largamente
arbitrárias. Já para não falar na redundância e na impropriedade da língua
pública que por aí se usa, nas legendas da televisão, que transformaram o
português numa caricatura de si próprio; ou na importação sistemática de
anglicismos, derivados do “baixo” inglês da economia e de Bruxelas.
De qualquer maneira, a pergunta da PACC em
que os professores mais falharam acabou por ser a seguinte:
“O seleccionador nacional convocou 17 jogadores para o próximo jogo
de futebol (para que seria?). Destes 17 jogadores, 6 ficarão no banco como
suplentes. Supondo que o seleccionador pode escolher os seis suplentes sem qualquer critério que restrinja a sua
escolha, poderemos afirmar que o número de grupos diferentes de jogadores
suplentes (é inferior, superior ou igual) ao
número de grupos diferentes de jogadores efectivos.”
Grupos de quê?
De jogadores de ataque, de médios, de defesas?
Grupos dos que jogam no estrangeiro e dos que,
por acaso, jogam aqui?
Não se sabe e não existe maneira de descobrir
ou de responder.
O dr.
Crato perdeu a cabeça.
Na terceira pergunta em que os professores
mais falharam, o dr. Crato agarrou nas considerações tristemente acéfalas de um
cavalheiro americano sobre “impressão e fabrico” de livros.
Esse cavalheiro pensa que há “livros em que a beleza é um desiderato” (ou seja, a beleza do
objecto) e outros “em que o encanto não é factor de importância material” (em inglês, “material” não
significa o que o autor da PACC manifestamente julga).
E o homenzinho acrescenta pressurosamente: “Quando tentamos uma classificação, a distinção parece assentar
entre uma obra útil e uma obra de arte literária”. A obra de arte pede beleza ao
tipógrafo (ao tipógrafo?), a obra útil só pede “legibilidade e comodidade de consulta”.
Perante este extraordinário cretinismo, a PACC
exige que os professores digam se o “excerto” “ilustra” os dois termos de
uma comparação, o primeiro, o segundo ou nenhum deles.
Uma pessoa pasma como indivíduos com tão pouca
educação e tão pouca inteligência se atrevem a “avaliar” alguém.
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