30 Novembro 2012, por Fernando Sobral, Jornal de Negócios
Parece cada vez mais evidente que o modelo que vai na cabeça de Passos não é liberal.
Finge que é.
Mas, na prática, é a utilização do poder do Estado para forçar à criação de um fosso social brutal, onde clientelas reduzidas terão ao seu dispor o Estado para o que é verdadeiramente importante.
Pedro Passos Coelho poderia ser o intérprete principal do filme "O Artista", uma jóia do cinema mudo no século XXI. Até porque, como primeiro-ministro, ele apenas acena e gesticula.
Não esclarece o que lhe vai na cabeça,
não descodifica o que quer para o País,
não exemplifica o que se vai fazer com tantos cortes em troca de cada vez mais impostos.
A entrevista do primeiro-ministro à TVI, nas entrelinhas, foi dolorosa.
O corte dos célebres quatro mil milhões de euros é uma excelente desculpa para colocar a felicidade dos portugueses no congelador e avançar para um modelo de sociedade que representará um golpe profundo com o País que conhecemos.
Quando Passos Coelho refere que o novo modelo contará com a colaboração da OCDE, do FMI e do Banco Mundial, relegando a contribuição da sociedade portuguesa para um plano inferior, mostra que ele será importado e "científico". E aplicado independentemente de qualquer contrato social nacional e sem ter em atenção a realidade da sociedade portuguesa.
Tudo no discurso de Pedro Passos Coelho parece ter a ver com debelar a dívida e o défice.
E que a opção por um modelo de austeridade, baseada numa fiscalidade dolorosa, é o único caminho a seguir.
É um discurso totalitário, porque nunca há só um caminho.
Mas nas palavras do primeiro-ministro emerge a aplicação de um princípio de hegemonia cultural (como António Gramsci referia), que permitirá a hegemonia política de uma classe aparentemente meritocrática.
A questão da educação é central no seu discurso. O corte dos gastos, segundo ele, deverá começar pela Educação. Fazendo com que os cidadãos paguem também por ela. Se isso já acontece no ensino superior a convicção é a de que esta "reforma do Estado" levará ao fim do ensino gratuito no ensino secundário. Abrindo espaço para o "ensino profissional" que está na cabeça de Nuno Crato e que cindirá a sociedade entre quem pode pagar cursos superiores para o filhos e quem não pode.
O novo modelo social está aí.
A que se alia um País sem economia interna e onde tudo é a pensar na exportação.
Trata-se da aplicação de um modelo que nem sequer é americano, porque os portugueses estarão amarrados ao saque fiscal do Estado, à sua burocracia e à sua falta de bom senso e justiça real.
O modelo que se adivinha nas palavras de Passos Coelho é muito mais identificado com o capitalismo estatista de certos países asiáticos, onde por detrás de um liberalismo económico as grandes decisões políticas estão nas mãos de uma elite.
O problema é que a sociedade que defende um modelo divergente do de Passos Coelho também escorrega na sua incapacidade para ser alternativa credível.
Porque não têm uma ideia para contrapor
Era essa reflexão que se deveria fazer, com tempo, sobre o modelo de país e de Estado que queremos e poderemos ter.
Mas é isso que, mais uma vez, não se fará.
Já Eça de Queiroz dizia:
"os ministros têm um meio de salvar a pátria, esse meio são os impostos; faça o fisco uma grande razia pela fazenda do povo, saqueie e fuja, e o país continuará caminhando na sua liberal lentidão, gordo de cabedal e grato aos salvadores. A oposição, quando isto vê, enche-se de nobres cóleras, e solta os seus raios. Engano ainda".
É nesta mansidão pantanosa que congelámos a felicidade dos portugueses.
E há quem, no centro político, não queira libertar a alegria para que possamos viver mais pobres, mas um pouco.
Não esclarece o que lhe vai na cabeça,
não descodifica o que quer para o País,
não exemplifica o que se vai fazer com tantos cortes em troca de cada vez mais impostos.
A entrevista do primeiro-ministro à TVI, nas entrelinhas, foi dolorosa.
O corte dos célebres quatro mil milhões de euros é uma excelente desculpa para colocar a felicidade dos portugueses no congelador e avançar para um modelo de sociedade que representará um golpe profundo com o País que conhecemos.
Quando Passos Coelho refere que o novo modelo contará com a colaboração da OCDE, do FMI e do Banco Mundial, relegando a contribuição da sociedade portuguesa para um plano inferior, mostra que ele será importado e "científico". E aplicado independentemente de qualquer contrato social nacional e sem ter em atenção a realidade da sociedade portuguesa.
Tudo no discurso de Pedro Passos Coelho parece ter a ver com debelar a dívida e o défice.
E que a opção por um modelo de austeridade, baseada numa fiscalidade dolorosa, é o único caminho a seguir.
É um discurso totalitário, porque nunca há só um caminho.
Mas nas palavras do primeiro-ministro emerge a aplicação de um princípio de hegemonia cultural (como António Gramsci referia), que permitirá a hegemonia política de uma classe aparentemente meritocrática.
A questão da educação é central no seu discurso. O corte dos gastos, segundo ele, deverá começar pela Educação. Fazendo com que os cidadãos paguem também por ela. Se isso já acontece no ensino superior a convicção é a de que esta "reforma do Estado" levará ao fim do ensino gratuito no ensino secundário. Abrindo espaço para o "ensino profissional" que está na cabeça de Nuno Crato e que cindirá a sociedade entre quem pode pagar cursos superiores para o filhos e quem não pode.
O novo modelo social está aí.
A que se alia um País sem economia interna e onde tudo é a pensar na exportação.
Trata-se da aplicação de um modelo que nem sequer é americano, porque os portugueses estarão amarrados ao saque fiscal do Estado, à sua burocracia e à sua falta de bom senso e justiça real.
O modelo que se adivinha nas palavras de Passos Coelho é muito mais identificado com o capitalismo estatista de certos países asiáticos, onde por detrás de um liberalismo económico as grandes decisões políticas estão nas mãos de uma elite.
O problema é que a sociedade que defende um modelo divergente do de Passos Coelho também escorrega na sua incapacidade para ser alternativa credível.
Porque não têm uma ideia para contrapor
- à globalização do trabalho,
- à falta de crescimento económico,
- ao envelhecimento da população
- e às mudanças culturais derivadas das migrações.
Era essa reflexão que se deveria fazer, com tempo, sobre o modelo de país e de Estado que queremos e poderemos ter.
Mas é isso que, mais uma vez, não se fará.
Já Eça de Queiroz dizia:
"os ministros têm um meio de salvar a pátria, esse meio são os impostos; faça o fisco uma grande razia pela fazenda do povo, saqueie e fuja, e o país continuará caminhando na sua liberal lentidão, gordo de cabedal e grato aos salvadores. A oposição, quando isto vê, enche-se de nobres cóleras, e solta os seus raios. Engano ainda".
É nesta mansidão pantanosa que congelámos a felicidade dos portugueses.
E há quem, no centro político, não queira libertar a alegria para que possamos viver mais pobres, mas um pouco.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Este blogue é gerido por Zé da Silva.
A partilha de ideias é bem vinda, mesmo que sejam muito diferentes das minhas. Má educação é que não.